Ofurô de cachorro

Capítulo anterior: A areia, a água, a praia

Quando acordamos o sol laranja da manhã estava começando a aparecer atrás dos prédios do centro do Guarujá. O dia estava quente, ótimo para tomar banho e se refrescar.

Meus pelos da barriga estavam pretos de tão encardidos e cheios de nós. Mas antes do banho precisávamos arranjar comida e, claro, água doce e sabonete. Saímos andando em busca dos dois. No mesmo botequim em que conseguimos comida, o dono simpático, mas não um gordinho de bigode, também nos deu um pedaço de sabonete. Agradecemos pelas coisas e fomos embora.

Primeiro, devoramos a nossa comida com rapidez. Estávamos com muita fome. No dia anterior, na praia, não conseguimos nos alimentar. Apenas havíamos comido alguns aperitivos, restos largados e rejeitados no caminho pelos turistas. Nada de refeição de verdade. Por isso, só depois de satisfeitos, ele se preocupou em conseguir água para me dar banho.

Andamos, andamos e andamos. Andávamos à procura de uma oportunidade, uma situação favorável a um pedido. Meu amigo nada falava. Apenas observava – até que chegamos a uma casa, onde uma senhora estava molhando as plantas do seu jardim.

O carroceiro parou e pediu para a anciã um pouco de água e disse para que a queríamos. Ela não negou. Pegou um galão vazio de 20 litros, daqueles que vocês humanos colocam de ponta cabeça na cozinha para beber, e o encheu com a água da mangueira. Sabe-se lá por que, o recipiente tinha a parte mais estreita cortada e, por isso, mais parecia um balde sem alças.

Pronto. Com banheira, água e sabonete a mão, começou a minha higiene. Meu amigo me colocou dentro do balde e eu me senti em um ofurô. Tomei banho como um rei. Não me lembrava de ter sido tão bem tratado. Eu estava feliz e completo, mas não imaginava o que viria pela frente. Naquela noite, limpo, alimentado e feliz, meu companheiro me deixou sozinho no centro da cidade praiana. Eu não sabia onde ele estava, nem se ia demorar. Fiquei apreensivo. Fiquei esperando a volta do meu amigo a noite inteirinha no mesmo lugar. Com o tempo, porém, me acostumei com suas ausências, pois ele sempre voltava. Retornava diferente de como estava quando ia. Mas voltava.

No próximo capítulo:

Ah, os humanos…

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Até a próxima segunda.

Lambidas.

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