De volta ao pronto-socorro

20130124_115914Capítulo anterior: As 24 horas

Acordei no dia seguinte com os olhos muito inchados. Meus músculos ainda tremiam e continuavam rígidos, embora menos que na véspera. Era domingo, ela me levou ao veterinário à tarde porque eu não parecia bem e ela estava muito preocupada. O médico me examinou, conferiu meus batimentos cardíacos, mediu a minha temperatura e me receitou um antialérgico. Por sorte, havia uma farmácia bem perto de casa – mas não tão próxima assim para um cão doente caminhar nem tão distante para tirar o carro da garagem. Erika, no entanto, não queria me deixar sozinho nem por um minutos. E se eu tivesse uma convulsão ou algo assim? Ela não se perdoaria. Por isso, com toda a paciência, lá fomos nós. Andei com muita dificuldade por um percurso que normalmente faria puxando com toda a força a minha dona, capaz de deixar marcas na mão dela do aperto da guia. Andei marchando e me arrastando pela rua, mas chegamos.

Ela me amarrou no corrimão e fiquei quietinho lá. No começo, quando ela me adotou e saíamos assim, ficava ansioso, com medo de que ela não voltasse. Dessa vez, porém, estava tranquilo, certo de que ela voltaria logo. E menos de cinco minutos depois, lá estava ela no caixa. Pude reconhecê-la à distância e pelo vidro cheio de adesivos. Com dificuldade, abanei o rabo e a moça do caixa me sorriu. Erika contou a ela que eu havia sido envenenado, e os olhos da caixa se encheram de lágrimas. Pela primeira vez Erika pôde reparar que havia gente que se sensibilizava com a causa de animais vítimas de maus-tratos de vocês, humanos.

Voltamos para casa e passamos o dia juntinhos. Com exceção das dores musculares que ainda sentia e da incômoda medicação, meus dias eram repletos de amor e cuidado. Nunca na vida – e já se haviam passado três anos – eu havia recebido tanta atenção. Naquela ocasião, todas as coisas eram feitas para mim e pensando em mim. O casal passava horas pesquisando e lendo artigos científicos sobre envenenamentos por chumbinho. Liam todos os sites que encontravam, mas com o devido cuidado de descartar todos aqueles que não fossem sérios e confiáveis. Queriam saber tudo sobre a fisiologia canina, sobre comportamento, sobre envenenamento, sobre tudo. Enquanto isso, eu melhorava e não apareciam indícios de sequelas. As primeiras 48 horas se passaram, chegamos a 72 e eu começava a melhorar. Comecei a me alimentar mais e parei de marchar. A recuperação começou a ser rápida. Após cinco dias, eu estava bem de novo. Os olhos desincharam, minhas fezes e urina se normalizaram. Naquela manhã foi uma festa com direito até aplausos.

Eu havia sobrevivido.

No próximo capítulo: A ideia

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Até a próxima segunda.

Lambidas.

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