A ideia

20130712_225251Capitulo anterior: De volta ao pronto-socorro

Depois da sobrevivência e da alegria, veio o trauma para os minha dona. Mais de um ano depois, ela ainda se lembrava diariamente do ocorrido. Ao passear comigo, deixou de olhar para frente, para a paisagem, para o movimento ao redor, para as pessoas que passavam. Em vez disso, concentrava-se exclusivamente no chão com o único propósito de me afastar a cada coisa suspeita que de longe viam na calçada. E sempre há muitas, quase sempre inofensivas. Mesmo assim, às vezes não ela percebia e eu abocanhava um pedaço de carne ou pão na porta de um bar. Ela passou a entrar em desespero e enfiava a mão na minha boca até arrancar que quer que fosse. Quando saíamos, não podia mais ficar cheirando as moitinhas ou os sacos de lixo, nem o xixi de outros cachorros nos postes. Com o tempo, eu mesmo cheguei à conclusão que não compensava caçar quitutes na rua. Era muito estressante para todos nós, e hoje resisto ao impulso.

Com certeza o veneno havia sido colocado na área comum de um condomínio onde os vizinhos se cumprimentam todos os dias. E quem já tinha feito essa maldade uma vez poderia fazer de novo. Por isso, as janelas do apartamento térreo, que antes sempre permaneciam abertas, agora estavam sempre fechadas. O quintal era lavado mais de uma vez por dia. Todo cuidado, pensava ela, era pouco.  Apesar disso, o veneno não deve ter sido colocado para mim. Exatamente uma semana antes, o gato de uma vizinha caiu morto na frente dela, também envenenado por chumbinho. Ela só soube disso dias depois e ficou ainda mais revoltada com duas vítimas no mesmo lugar, provavelmente obra da mesma pessoa. Erika não sabia, mas se Deus escreve direito com linhas tortas, o envenenamento foi o preço a pagar por um bem maior, pois ela, inconscientemente, estava prestes a pagar o mal com o bem.

Os dias se passaram, eu estava bem outra vez, mas a sensação incômoda de quem havia sido violentada não saia do coração da minha dona. Ela começou a pesquisar mais ainda sobre a causa animal e descobriu que existem milhares de animais, especialmente os cachorros, vítimas de uma brutal maldade, negligência e desrespeito das pessoas. Erika foi apresentada a um mundo de crueldade e ficou ainda mais indignada e com vontade de poder fazer alguma coisa por nós, peludos. A imagem que ela tinha na cabeça passava como um filme: eu me revirando na maca do hospital veterinário, as lágrimas. Tudo isso a movia e fazia com que procurasse um modo de colocar aquela sofrimento para fora. Passou semanas a fio pensando até que teve uma ideia.

Em uma noite gelada de julho, Erika sentou-se do meu lado e pegou o computador. Escreveu algumas páginas e rabiscou o desenho de algumas patinhas de cachorro num pedaço de papel. Mostrou para algumas pessoas a ideia e fez acontecer. No dia 23 de julho de 2012, o www.6patas.com.br foi ao ar.

Pessoal,

Depois de um ano escrevendo em um teclado de computador, difícil para patas, preciso de férias!!!

Volto dia 19 de agosto, um dia depois da II Manifestação Crueldade Nunca Mais, com novas histórias.

Preparem-se para conhecer minha amiga Brisa.

Lambidas e até a volta!!!

 

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