O amor que mudou a minha vida
Bel veio correndo ao ouvir o chamado da mãe para ver o que ela tinha para lhe mostrar na tela do laptop. Era a divulgação de um cão abandonado e sem dono, em busca de uma adoção. Ele estava sendo tratado de sarna no CCZ de Guarujá, e um anjo de olhos brilhantes havia postado na internet a foto, acompanhada do apelo. Esse cão era eu.
A menina, assim como toda a família, sentia saudades de Duna, uma cocker spaniel que anos antes chegara, fora comprada filhote. Tinha pedigree e passou a vida toda com a vida confortável de um animal de estimação: passeios com hora marcada, cama feita de edredom quentinho, ração de qualidade, água sempre fresca e muito chamego.
Duna era amada por todos, muito querida mesmo. Passou a vida ganhando mimos e laços coloridos e foi envelhecendo lentamente, com a serenidade de quem nunca soube a realidade de seus semelhantes das ruas. A cocker caramelo sempre estava presente. Ela era parte integrante daquela família. Viajava com eles, passeava de carro, ia para longe e sempre voltava. Vivia e dormia literalmente no pé de sua dona.
Pouco a pouco, os pelinhos dela foram se tornando cada vez mais claros, e a cachorrinha ficava cada dia mais cansada. Como era uma boa pet, sempre brincava com uma bolinha quando lhe jogavam e rolava com a gata com quem compartilhava o mesmo apartamento. Em nenhuma das duas jamais aflorou o instinto belicoso tão natural entre cães e gatos.
Um dia, quando clareou e todos estavam acordando no apartamento, Duna sentiu seu coraçãozinho bater mais rápido. Sem compreender o motivo de aquilo estar acontecendo, ficou assustada. Procurou sua dona. Ela pressentia que só ela, talvez, poderia ajudá-la e foi com dificuldade caminhando até o pé da cama. Parou e deu um suspiro de cansaço. Sua dona deu um pulo da cama, e a chamou.
Duna estava cansada demais para responder. Deu mais um suspiro e deitou-se. Deitou e não se levantou mais. Nunca mais. A casa entrou em luto, incluindo a gata. Aquela cocker deixou um legado de amor, companheirismo e felicidade, mas quando se foi deixou um vazio não só no apartamento, mas também dentro do coração de todos.
Para mim, Duna foi o meu milagre, a primeira lição de que, até para os cães, Deus escreve direito por linhas tortas. Por isso, quando aquela criança me viu pela tela do computador, me achou diferente. Ela se preocupou comigo. A convivência com a cocker desde que nasceu lhe havia ensinado, embora ainda pequena, a ver os animais com empatia. Bel se colocou no meu lugar e quis ajudar.
– Vamos lá, mamãe – disse a menina, animada. – Eu quero.
E elas foram.
Eu estava muito perto de viver algo que eu nunca havia sonhado.
No próximo capítulo: Meu futuro ia mudar
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Até a próxima segunda.
Lambidas.