Será que eu impressionei?
Capítulo anterior: A visita
Achava que acabaria me levando com ela. Mas que nada. Eu fiquei. A minha conclusão era óbvia: eu não havia agradado o bastante.
No dia seguinte, ainda mantive certa esperança de que o casal fosse aparecer de novo. Mas qual o quê! À medida que os dias foram passando, fui ficando chateado e sem esperança. A rotina de presidiário se repetia: lavanderia-varanda-lavanderia. Ao mesmo tempo, porém, sentia na família uma energia de satisfação e, ao mesmo tempo, de pesar. Não estava entendendo direito. Na noite da penúltima sexta de abril de 2012, depois do passeio, a mãe de Bel chorou falando comigo. Ela me fez carinho e me deu abraços. Era uma despedida, percebi. Mais uma vez, meu pequeno coração se encheu de tristezas e incertezas.
No sábado, vi as minhas coisinhas serem recolhidas e colocadas em um saco de supermercado. Minhas vasilhas, meus remédios, meu surrado edredom. Lembrei-me do dia que fui abandonado pela primeira vez. Eu era bem menor, não sabia o que estava acontecendo. Vi meus antigos e primeiros donos recolherem e jogarem as minhas coisinhas dentro de uma sacola de supermercado também. Ambas às vezes me disseram que nós iríamos passear.
Desta vez, no entanto, era diferente. Da primeira vez eu acreditei que seria só um passeio, mas agora estava assustado. Sabia agora que para passear não teria sido necessário levar todas as minhas coisas. E agora? Será que me arremessariam de novo do carro em uma estrada? Para onde iriam me levar? Será que tudo iria se repetir? O fato é que o carro emergiu da escuridão da garagem para a claridade da luz da rua. Fiquei enjoado com a mistura do movimento do carro com os meus medos e dúvidas. Vomitei.
O carro parou e me puxaram pela coleira por uma rua diferente das que eu vira no Guarujá. Havia no meio dela um canal, cujas águas corriam depressa. Eu não conhecia aquele lugar. Será que me jogariam lá no fundo?
No próximo capítulo: A despedida
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Até a próxima segunda.
Lambidas.
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