De frente com a morte

552888_386911358018198_445536125_nCapítulo anterior: A mudança

Era um dia normal como todos os outros na minha nova casa, e a rotina me fazia bem, me acalmava. Estávamos em casa Erika e eu. Ela fazia faxina. Toda vez que ela limpa a casa, eu fico em um cantinho quieto e enrodilhado para não atrapalhar. Não levanto nenhuma vez, parece até que não existo. Ai de mim se não colaboro com a limpeza. Aprendi logo com minha dona virginiana que pôr minhas patinhas onde ela está limpando desencadeia reações tão incomodamente barulhentas quanto fogos de artifício em final de campeonato.

Depois de tudo limpo e o chão seco, Erika veio com a guia na mão e colocou em volta do meu pescoço. Eu dava pulinhos de felicidade. Íamos sair. Estava na hora mesmo. Como em todos os outros dias, demos uma volta no quarteirão. Aproveitava cada minuto do passeio para cheirar todas as moitas e cantinhos. Fazia todas as necessidades que precisava na rua. Nunca fazia xixi e nem cocô dentro de casa. Preferia a rua e, por isso, esperava sempre o meu passeio, por mais que eventualmente demorasse.

Como sempre, Erika recolhia minhas fezes em um saquinho plástico para depois jogar no lixo. Daquela vez não foi diferente. Quando entramos no condomínio, ela foi em direção a um latão comunitário de lixo. Enquanto ela jogava a bolsa plástica, algo me chamou atenção no chão. Era só um pedacinho de carne. Segui meus instintos de cachorro vira-lata e comi aquele pedaço apetitoso. Que mal haveria? Afinal, vivi na rua quase toda minha vida e já tinha comido de tudo.

Certa vez peguei um siri vivo na boca. Estávamos na praia, Erika e eu, quando velozmente dei um bote sobre algo que estava se mexendo embaixo da areia. Segurei-o no meio dos dentes. Suas pinças abriam e fechavam, produzindo um ruído bem engraçado. Erika gritava para eu largar o bichinho assustado. Obedeci e larguei. Daquela vez nada de ruim me aconteceu, meu focinho escapou da pinça, algo bem diferente do que estava prestes a acontecer.

Entramos no apartamento e me aconcheguei, como de costume, no meu edredom. Enquanto isso, minha dona conversava comigo sentada no sofá. Menos de meia hora depois, porém, senti uma forte dor no estômago. Muito forte. Engasguei do nada. Assustada, Erika me chamou para beber água, acreditando que me aliviaria. Dei outra engasgada e a segui. Não estava me sentindo nada bem. Perdia força progressivamente e, me quase me arrastando, consegui chegar aos seus pés. Minha cabeça doía muito. Por isso, não conseguia levantá-la mais. Ela pesava, parecia que ia explodir.

Erika passou de preocupada a desesperada. Pegou a minha mandíbula e viu que minha boca estava espumando.

De repente, ela deu um grito:

– O Oscar está morrendo!

Eu estava morrendo? O que era morrer? O que estava acontecendo comigo?

No próximo capítulo: O envenenamento

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A ordem cronológica é de baixo para cima.

Até a próxima segunda.

Lambidas.

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