OSCAR, O CÃO VENCEDOR

A despedida

36-300x204 Capítulo anterior: Será que eu impressionei?

Estava com muito medo de ser abandonado de novo.

Não tinha ideia de para onde estavam me levando e do que iria acontecer comigo.

Atravessamos o canal por uma estreita ponte branca, vazada. Olhei para baixo e vi a água esverdeada fluindo bem devagar. Fiquei assustado. Mas não fui empurrado.

Nossa, que alívio!

Paramos na calçada. Uma porção de carros passava depressa, um atrás do outro, sem trégua. Aos poucos, o fluxo diminuiu e atravessamos o asfalto cuidadosamente.

Ufa, ninguém me jogou contra nenhum carro!

Andamos mais um pouco e paramos na frente de um enorme portão de garagem – com a diferença de que ele não se inclinava para a escuridão de um estacionamento subterrâneo como o da casa de Bel, em Guarujá. Em vez disso, ele dava passagem para um longo corredor, que se estendia entre duas fileiras de blocos de prédios de tijolinhos à vista, com apenas dois andares.

A mãe de Bel digitou três números na portaria, uma voz atendeu, uma campainha estridente soou e a porta se destrancou automaticamente. Caminhamos até a metade do corredor, entramos em um dos prédios e paramos na porta de um apartamento no térreo. Achei tudo estranho. Nada era familiar para mim: nenhum cheiro, nenhuma pessoa, nada.

De repente, a porta se abriu e atrás dela estava aquela moça que tinha nos visitado dias antes, a prima de segundo grau de Bel. Ela se agachou e abriu os braços. Sabia que era para mim. Fui correndo até ela. Entramos todos em uma casa cheia de caixas de papelão espalhadas por todo o espaço. Algumas estavam fechadas, outras abertas; algumas cheias, outras vazias e até desmanteladas. Para os padrões humanos, aquilo era uma verdadeira desordem. Quase nada estava no lugar. Para mim, era o aconchego do papelão em que dormi durante boa parte da minha vida.

A mãe de Bel abriu meu edredom e o colocou em um cantinho, ao lado da mesa da sala de jantar, praticamente o único espaço livre entre as inúmeras caixas. Caminhei até ele e ganhei um ossinho desses que se compram em pet shops.  Peguei, mas logo larguei. Estava curioso para conhecer aquela casa. Enquanto isso, as minhas tigelas também apareceram no cantinho da cozinha, completamente cheias de ração e de água.

Cheirava tudo. Queria achar alguma coisa familiar. Nada. Não estava habituado com nada daquilo. A casa não tinha o cheiro do casal que eu estava conhecendo. Só as caixas que tinham. Estava achando tudo muito estranho. Por isso, preferi ficar ao lado da menina Bel, o mais quieto que pude. Mas foi por pouco tempo. A família precisava ir embora e começou a se despedir. A dona da casa me colocou novamente a coleira e saímos todos em direção ao portão. Meu edredom e minha caixa com remédios, ossinhos e brinquedos ficaram. Era uma despedida. Eles entraram no carro e partiram.

Meu coração se encheu de saudades, dúvidas e curiosidades. Dei um passeio na nova rua, com a minha nova dona, que parecia feliz em me ter ao seu lado. E voltamos para a casa que naquele dia 24 de abril de 2012 estava se tornando o lar dela– e meu também.

No próximo capítulo: A mudança

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Até a próxima segunda.

Lambidas.

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