Dia dos animais: a realidade de ter um pet

Quando vamos adquirir um animal de estimação, seja ele cachorro ou gato, sempre temos uma expectativa. Que ele seja fofinho, carinhoso, brincalhão ou simplesmente companheiro. Mas esquecemos que ele já vem com sua personalidade, necessidades e possíveis traumas.

Por isso, ao longo da vida, começam a aparecer os conflitos e problemas de relacionamento. Não que o tutor seja mal, muito menos o animal. Mas cada um tem uma visão diferente do outro.

Essa semana, fui atender um cachorro da raça Jack Russell. Adotado há três meses, o cão apresentava questões sérias de comportamento, que estavam enlouquecendo os tutores. O casal já havia tido outros cães anteriormente. Mas não conseguiam compreender o que levava o pequeno Jack a sujar toda casa com suas próprias fezes, quando sozinho.

Ao perguntar sobre o que eles buscavam quando foram adotar um cão, descobri que o objetivo era bem diferente do que o encontrado. Eles queriam um vira lata mais velho e tranquilo. Mas se encantaram com o Jack. Sem pestanejar, levaram para casa. Só aí foram pesquisar quem era aquele cão e suas necessidades.

A primeira coisa que eu fiz durante a consulta foi explicar a origem da raça, suas necessidades físicas e cognitivas. Com olhos bem arregalados, eles não imaginavam que necessitariam de tanto empenho e dedicação ao peludo. Muito comprometidos e responsáveis, ouviram atentamente tudo o que deveria ser feito e já colocaram em prática.

Infelizmente essa história não é regra, mas exceção. Não são todos os humanos que se disponibilizam a aceitar e se adaptar às necessidades do peludo. Na maioria das vezes, quem não se adequa ao desejado, gera frustração e pode ser descartado.

A qualquer alteração do que imaginávamos como o pet ideal, cogitamos a possibilidade de doá-lo para outro alguém, crendo que haja uma outra situação mais adequada. É o clássico exemplo de “o cachorro se comporta assim por falta de espaço. Vamos doar para o João que tem uma fazenda. Lá ele será mais feliz”. Será que estamos pensando no melhor para o cachorro ou para nós?

Estamos na era do menor trabalho possível e da isenção de responsabilidade. Ou melhor, da terceirização da responsabilidade. Nunca tivemos tantos adestradores e passeadores! Não só pela real necessidade desses profissionais, mas também como uma forma de alguém resolver o problema do animal, que não seu próprio tutor. Se muitos pais terceirizam a educação dos seus filhos para a escola, por que não fazer o mesmo com os cães? Você já deve ter ouvido a frase: “meu cachorro passa o dia na creche e chega em casa um anjinho”. Mas será que é o melhor para ele?

No dia 04 de outubro, é comemorado o dia mundial dos animais. São inúmeras atividades, eventos e feiras de adoções em todo país. O que me preocupa é saber quantos dos cachorros e gatos dos lares brasileiros estão tendo suas necessidades básicas atendidas. Ou será que são eles que atendem às necessidades dos humanos?

Apesar dos discursos lindos e inflamados de animais não são coisas, mas seres sencientes, ainda sinto que na prática do dia a dia, continuamos a tê-los e a trata-los como melhor nos convém. Quantas são as pessoas, que mesmo cansadas após um dia de trabalho, saem com seu cachorro para dar uma volta? Quem compreende seu gato quando chama para brincar às quatro da manhã, após um dia todo sozinho sem atividade? Qual o nível de tolerância com o cachorro do vizinho que late por desespero, quando sozinho?

Desejo que neste dia dos animais mais pessoas olhem seus pets como indivíduos com necessidades específicas e não como seres a nosso serviço.

Por Luiza Cervenka de Assis

Retirado: Estadão

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