Biografia de um cão sem dono

Olá, mundo.

Sou um cachorro vira-lata, que já furou muito saco preto e derrubou muitas lixeiras de plástico pela  Baixada Santista. Mas sou de raça, e muito forte, por sinal. Não estou falando de raça no sentido de pedigree, mas daquela da qual tanto se fala no futebol, aquela gana de viver e sobreviver. Conheci vários outros cães na rua que desistiram lutar. Amedrontados, conformam-se com a dor e chegam a desejar a morte de tão cansativa que é a vida.

Eu, não.

Segundo uma veterinária, tenho cerca de três anos e meio. Para um cão, estaria saindo da adolescência. Mas já passei por muita coisa. Fui abandonado a vida toda. Tive doenças, medo e frio. Fui maltratado e machucado. O Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) do Guarujá me retirou das ruas no começo de 2012, pois como eu estava muito doente poderia transmitir alguma infecção para as pessoas. Foi a primeira e única vez que o Estado reconheceu minha existência. Sofri novamente maus-tratos, de humanos e de meus semelhantes.

Agora acabou.

Este blog foi criado por minha protetora, a jornalista Erika Bismarchi, com o objetivo de ajudar a socorrer outros animais, que, assim como eu já estive, estão hoje em situação de abandono e de maus-tratos. Sem demérito para as incontáveis crianças humanas que tanto sofrem de abandono, acho que isso não diminui o direito dos bichinhos como eu de lutar por uma vida digna.

Vou contar detalhadamente a partir de hoje minha vida nas ruas – e depois que saí delas, para onde espero nunca mais voltar, apesar da liberdade que ela nos dá. Espero que minha narrativa sirva para sensibilizar os humanos, tão desumanos às vezes, e que eles (vocês?) sejam capazes de entender que temos dor e prazer como todo mundo.

Uma lambida e até a próxima.

Oscar

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