Cães ‘tomam conta’ de delegacia em SP

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Nem oficiais e praças da PM, nem delegados e investigadores da Polícia Civil, mas a turma que se sente a dona do pedaço da região do 47º Batalhão da Polícia Militar e do 72º DP (Distrito Policial) é formada por oito vira-latas.

Foi o que flagrou a reportagem da Folha numa madrugada fria de inverno da Vila Penteado, zona norte de São Paulo.

Lá encontrou quatro dos cachorros do grupo passeando e latindo para as pessoas que se aproximavam da entrada da delegacia. Pareciam estar no quintal da casa deles.

Ao término do registro de mais um boletim de ocorrência, uma vira-lata marrom se aproxima de quatro policiais do lado de fora da delegacia. O brinquedinho que carrega não se assemelha em nada aos vendidos em lojas de pet shop da cidade: é uma garrafa pet transparente e amassada.

Alguém acha a cadela bonita, tenta fazer carinho na cabeça e quase leva uma mordida. Por instantes, ela solta o brinquedinho e começa a latir.

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O soldado Thiago Luiz Freitas já conhece a cadela do batalhão onde trabalha. Chama o animal de Ruivinha e pede carinhosamente para ela parar de latir. O animal obedece e retribui abanando o rabo. Os outros três cachorros também se aproximam em busca de carinho.

Outro policial diz em tom de reprovação que Freitas mima muito a cachorra. O soldado discorda e afirma que Ruivinha apenas tem medo que tomem a sua garrafinha pet amassada.

Para Freitas, Ruivinha é a estrela da redondeza, posto que divide com os outros companheiros da matilha: Ronildo, Cabeção, Afonsinho, Monarim, Celeste, Moraizinha e Batista. Eles vivem em um canil improvisado no batalhão da PM, mas gostam mesmo é do movimento do 72º DP.

Os nomes do bichos foram dados pelos PMs, muitos pelas características físicas –como o caso de Cabeção– ou para homenagear colegas de farda, como Batista, um policial morto há cerca de dois anos.

Cabeção é o líder da “cachorrada”. É mais antigo no batalhão e já demarcou seu território. Há cinco anos, o vira-lata de cores preta e branca com uma cabeça comprida mora no local.

Cão policialSem título

De tanto conviver com os policiais até age como um deles. Segundo Freitas, o cachorro não pode ver os PMs abrirem a porta de um carro da PM que já quer avançar no preso. “Ele não gosta de bandido, mas por favor não escreve isso porque as pessoas podem achar que permitimos, o que não é verdade.”

Cabeção não gosta também de motociclistas. Quem estiver em uma moto deve passar bem longe do batalhão e da delegacia.

Mas a vida desse grupo tem seus momentos de descontração e de lazer, como revirar o lixo do batalhão e cometer pequenos “furtos” a pizzas e marmitas.

Freitas lembra que um dia Cabeção aproveitou um pequeno vacilo de um policial para furtar uma pizza inteira na caixa. Saiu correndo para os fundos do batalhão para comer com os outros cães. Irritado, o PM teve que pedir outra pizza e ainda ser alvo de piadas dos colegas.

O policial conta que os cachorros não roubam comida por fome. Eles comem ração duas vezes ao dia por orientação de veterinários, mas não podem ver comida na frente.

“Nos organizamos em dois ou três policiais nos plantões para dar ração duas vezes ao dia, mas eles adoram pizza”, disse Freitas rindo. Quem não gosta?

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Na turma de Ruivinha, um deles chegou a ser adotado por uma família. Moraizinha foi para a casa de uma mulher que foi registrar um boletim de ocorrência de acidente de trânsito na delegacia.

Dias depois, a cachorra, que já estava na casa nova na Brasilândia, viu um carro da PM e correu atrás. Os policiais não sabiam que ela tinha mudado de casa e a trouxeram de volta.

Há também muitos casos de policiais que se id entificam com os cachorros, que chegam sozinhos ou são abandonados no local, e levam para casa. Freitas disse que já adotou a vira-lata Chiva e levou para a sua mãe o labrador Meninão.

jkhRecruta do quartel

O cachorro novato do batalhão é o Afonsinho, que chegou ao local “pele e osso” e já está “gordinho”. ” Ele é o nosso mais novo recruta”, disse, orgulhoso.

Mas Afonsinho pode perder o posto de recruta em breve. Há alguns dias uma nova vira-lata chegou ao local. Ela entra no batalhão, olha desconfiada para os policiais e se esconde atrás dos carros da PM.

“Vamos pensar em um nome para ela, por enquanto ainda está se adaptando com a nova família”, disse o soldado animado com a nova moradora.

Resta saber qual será o nome escolhido para a mais nova integrante da matilha.

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Texto retirado da Folha de S.Paulo

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