Seja bem-vinda, Cacau

Cacau é uma fruta, que seu estágio natural, é amarga, e, até mesmo um pouco apimentada. Antes de ser descoberta como chocolate, o cacau era tomado pelos povos maias, segundo relatos de historiadores, de forma semelhante ao nosso famoso e diário cafézinho. 

Para se tornar um dos símbolos do amor, o chocolate, é necessário uma preparação que carece de muito cuidado e dedicação. Em diversos casos, em todos os casos, ambas as coisas são capazes de serem modificadoras de forma positiva. Por isso, quando encontrei aquela cachorra, um tanto desengonçada e assustada, curvada, com o rabo entre as pernas, mas que quando reparou o olhar cruzar o seu, devagar e timidamente abanou rabo de um lado para o outro, sabia que se ela fosse carinhosamente cuidada, ela poderia se tornar forte, saudável, alegre, doce e mais bonita do que já era.

Fiz um chamado, que prontamente foi respondido. Nos sentamos no meio fio. Deixei ela cheirar a minha mão, que ela aproveitou para dar uma lambida. Estava selada uma amizade. Enquanto a acariciava, observava as marcas que denunciava alguns maus-tratos e negligências. Sob seus pêlos marrons, sujeira e fuligem, capazes de deixarem as mãos sujas. A marca de corrente em seu pescoço, as pequenas cicatrizes recentes e a magreza, demonstravam a falta de cuidado que essa pequena cachorra havia enfrentado. 

Um biscoitinho, um assobio e ela começou a me seguir. Passamos na frente de um portão, onde um cão raivoso latiu, assustada, aquele indefeso animal, saiu com passos rápidos, quase que trotando, como um pangaré desajeitado. Quase a perco. Chamo sua atenção novamente, ela olha desconfiada, mas diminui os passos e para. Cheguei ao seu encontro mais uma vez. Ela, ressabiada, inclinou seu corpinho para frente e ganhou mais um afago. Mais alguns passinhos e algo a assusta de novo, que ameaça a sair correndo para o outro lado. 

Paro e olho no fundo para aqueles olhinhos castanhos claros e vejo uma mistura de desespero e gratidão. Com cautela, a seguro no colo. Longe do meu rosto. Trago ela até minha casa. Abro o portão, ela entra. Coloco água, ela bebe. Deita em cima de um pano esquecido no quintal. Ofereço comida e ela aceita. Come, bebe e dorme. Dormiu quase 48 horas seguidas. Estava com sono, coitada. Vai saber o que já havia enfrentado na rua. Depois de três ou quatro dias, ela já começava a atender pelo seu novo nome: Cacau. 

No outro dia, no dia seguinte, na mesma rua, no mesmo ponto de ônibus onde meu destino cruzaram com o de Cacau, encontro uma outra cadelinha, também perdida e desnorteada. Descubro que ela havia acabado de ser abandonada. Seus antigos donos a enxotaram para fora do carro. Cada automóvel que passava, ela corria com uma esperança desesperada. No dia seguinte, descubro que um cachorro enorme também havia sido abandonado aos arredores de onde encontrei Cacau e a vira-latinha caramelo. Essa ação não me surpreende. Alguns anos morando na região da Baixada Santista, já aprendi que nessa época do ano, os abandonos de animais crescem.

Por mim e pela minha vontade, queria abraçar o mundo. Se eu pudesse, colocava todos esses animais para dentro de casa, para que eles não passassem mais nenhum tipo de atrocidade na mão de humanos tão desumanos. Mas, infelizmente, não posso. Não posso por diversos fatores humanos. Mas posso ajudar. Você pode ajudar. Cacau foi adotada por mim, mas existem dezenas de animais esperando por você. Segundo uma pesquisa do Instituto Pet Brasil, há cerca de 140 milhões de animais de estimação espalhados pelo território brasileiro. Estima que ultrapassa de 4 milhões os animais que são cuidados de forma coletivas, os famosos “animais comunitários” ou sob tutelas de pessoas que vivem nas ruas. Existem mais de 170 mil animais sendo abrigados em ONGs e Zoonoses esperando por uma adoção. Por isso, se não você não puder adotar, tudo bem! Existem milhares formas de ajudar.

Você pode colaborar compartilhando postagens de pedidos de resgates, adoção e de cachorros perdidos. Pode colaborar com uma quantia de alimento, dinheiro ou tempo para algum abrigo, que possuem 75% de vira-latas. Aliás, se você tem animal, pode ajudar identificando-o. Quantos animais se perdem da família e passam dias vagando à própria sorte? Conforme a Sociedade Mundial dos Animais, 70% dos animais que estão nas ruas vão morrer sem cuidados, com doenças e/ou machucados.

Como o chocolate, Cacau será cuidada e tratada para se tornar um dos doces mais amado mundialmente. Escolhi este nome, porque além do motivo de que ela tem a cor de chocolate, ela representa essa transformação, a mudança de um estado natural para o doce. O destino dela se metamorfoseou, como o meu também, eles se uniram em um elo de responsabilidade e carinho. Que sorte pode modificar a história de uma cadela que estava fadada a receber, na maioria dos casos, desprezo de todos, e, em alguns casos, diferentes tipos de maldades.

Estimo que a Cacau tenha 7 meses, por conta de sua dentição branquinha e de sua energia de filhote. Acredito que ela nunca tenha entrado no cio. Ela não é castrada. Mas logo vou providenciar isso. Ela já tomou vermífugo e está aparentemente bem saudável. Nossos próximos passos, é fazer uma consulta veterinária e colocar a vacinação dela em dia. Ela também já ganhou uma coleira, com uma plaquinha de identificação, caso fuja, uma guia e diversos brinquedinhos que já foram destruídos. Agora ela não é mais uma cachorra de rua, ela tem uma casa, comida, água fresca, pais e até um irmão humano. Ah! Até um grande amigo: O Bob, um cachorro vizinho.

Cacau tomou conta do meu espaço, coração e agora (também) algumas publicações daqui, do 6 Patas. Quero muito de compartilhar como vocês, nossos leitores, a nossa jornada. Você pode acompanhar as aventuras de Cacau, assim como as suas andanças e seus momentos de fofuras (que são muitos) em nosso Instagram (@6patas) também. As nossas novidades para o ano de 2020, estão apenas começando. 

Este ano promete!

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