Procura-se um dono na internet

O meu anjo ficou muito triste. Aquele encontro com o homem dos bujões de gás deixou-a muito desanimada e, mais do que isso, com raiva – raiva da dificuldade de as pessoas entenderem o bem que um cão pode trazer para a vida de uma família. Se entendessem, não recusariam. Mas ela não perdia as esperanças de que encontraria um bom lar para mim. Em meio a tantos cães abandonados no planeta, eu jamais viria a entender o porquê de ela estar tão determinada a ajudar a mim em especial. Era um sentimento, sem dúvida, incondicional, quase canino.

Depois de passar o dia todo imaginando o que poderia fazer, ela teve uma ideia e resolveu na hora pôr o plano em prática. Primeiro, pegou o cabo da máquina fotográfica e descarregou as fotos no computador. Depois, abriu imagem por imagem. Enquanto olhava a minha carinha na tela, deixou escorrer uma lágrima. Entrou no Facebook e começou a escrever a minha historinha. Resumidamente, explicou a minha situação no Centro de Controle de Zoonoses. Também contou o que sabia da minha vida difícil, dos meus abandonos. Estava tentando comover alguém.

Ela não sabia, mas ao mesmo tempo eu havia arrumado uma briga feia com um cão da minha cela. Ele era um rotweiller, muito maior do que eu. A sorte é que ele estava doente. Do contrário, com certeza não teria sobrado nenhum resto de mim para contar esta história. Mas como eu também estava fragilizado, os funcionários do CCZ nos separam rapidamente. Um bom estrago, porém, já havia sido feito. Além de arranhões e perfurações causadas por dentes movidos por uma poderosa mandíbula, minha orelha, a mesma curada da bicheira, fora dilacerada. Parte dela ficou pendurada por um fio. Doía.

Enquanto isso, meu anjo passava horas compartilhando fotos minhas na internet. Ela fazia isso com os amigos, conhecidos e desconhecidos. Não importava. Ela acreditava. E tentava obstinadamente. Foi assim que minha foto rodou por inúmeros computadores, em diferentes lugares do país. Muitas pessoas se emocionavam com a minha história, outras me achavam uma gracinha, mas ninguém, ninguém, ninguém se interessava o suficiente para sair de casa e ir até o CCZ me resgatar.

Minha amiga  humana me visitava quase que todos os dias, levando muito amor, carinho e esperança. Sempre afagava a minha orelha ferida, prometendo um lar feliz. Quando dizia isso, seus olhos se iluminavam, e era essa luz que acalmava um pouco o meu pequeno coração assustado.

Um dia tudo mudou. Uma mulher achou a minha foto na tela do seu laptop e me achou não uma graça, mas muito diferente. Olhou bem para mim na fotografia, simpatizou, e, em vez de clicar em qualquer outra coisa, chamou a filha.

– Bel, olha que gracinha. Vamos lá conhecer ele?

No próximo capítulo: O amor que mudou a minha vida

Para acompanhar todos os capítulos da minha história, clique aqui. A ordem cronológica é de baixo para cima.

Até a próxima segunda.

Lambidas.

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