Precisa-se de um dono

Capítulo anterior: As surpresa da vida

Meu anjo se foi do CCZ com aquela caixinha prateada cheia de imagens minhas. Eu não tinha como saber, mas as fotos eram apenas parte de um grande plano, que começava com uma visita até a loja de botijões de gás. Para lá ela foi. E conversou com aquele homem que eu seguia determinado, que cuidava de mim, que me dava parte de sua marmita todo santo dia – e, mais importante que tudo, me dava atenção. Ela contou para ele que eu havia sido levado para Centro de Controle de Zoonoses de Guarujá e que estava doente e muito deprimido por estar lá. Ele pareceu preocupado e prometeu tomar uma atitude a meu favor. Disse que até me adotaria e me levaria para sua casa. O meu anjo acreditou.

Passaram-se três dias e nada de o homem telefonar para ela ou ir me buscar. A moça, insistentemente, depois de várias tentativas foi atendida ao telefone pela recepcionista do CCZ dizendo que eu permanecia ali. Revoltada, ela desligou o telefone e foi até a loja de botijões de gás, de novo. Queria tirar satisfação com o homem. Acabrunhado, ele disse que não conseguiria ficar comigo. A mulher dele não queria e, por isso, era melhor eu continuar onde eu estava.

Sim, ele disse que seria melhor. Melhor? Como melhor? Nada é pior que o CCZ. Acreditem! Aquilo é o Carandiru canino. Diariamente passam por aquelas portas cães muito doentes ou vítimas de negligências ou maus-tratos de vocês, humanos. Cães atropelados, esfaqueados, fracos e abandonados são levados para lá. E, principalmente, doentes. O lugar não tem capacidade para abrigar todos os necessitados. Por isso, quando um cachorro está saudável e é levado ou recolhido pelo CCZ, ele é castrado e descartado novamente as ruas.

E é melhor, creiam. Lá dentro, a gente fica vulnerável a todo tipo de doenças, confinados em celas promíscuas. Só ficam os que estão lá com doenças que podem ser transmitidas ao ser humano. Ou seja, o CCZ é feito para proteger os humanos. Apenas os humanos.

Quando meu anjo ouviu as péssimas notícias de que a mulher de meu amigo dos botijões não me queria, ela ficou triste – mas ao mesmo tempo determinada a encontrar um lar feliz. Ela prometia. Eu acreditava. Precisava acreditar.

No próximo capítulo: Procura-se um dono na internet

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Até a próxima segunda.

Lambidas

 

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