OSCAR, O CÃO VENCEDOR

Enfim, comida

Capítulo anterior: Medo e fome

Eu continuei andando, ensopado, com sede, com fome e ainda assustado. Quanto mais o sol subia no céu, mais gente cruzava o meu caminho. Encontrava pernas sem parar. Algumas desviavam quando chegavam perto de mim, outras pulavam ou simplesmente passavam ao largo. Para a maioria, era como se eu não existisse, nada mais que um fantasma peludo e apavorado. Isso me fazia sentir ainda mais desprotegido e acuado. Por outro lado, também me sentia esperançoso, pois achava que naquela manhã eu havia feito uma grande descoberta no mundo dos humanos. Estava certo de que em todos os botequins da vida, encontraria um bigodudo, barrigudinho para me dar um pouco de comida. Ledo engano.

Parava na frente de todos os bares por onde passava. E em todos, eu disse todos, tentei ser simpático. Eu sentava na porta, com a língua para fora, abrindo um belo sorriso. Na verdade, não era sorriso, mas sim cansaço, sede e calor. Quando nós, cachorros, estamos assim é porque estamos suando. Ao contrário do ser humano, nosso suor sai pela língua. Por isso, muitas vezes nós babamos muito. Também suamos pelas almofadinhas das patas. O fato é que não tive nenhuma sorte com comida. Nem todos os gordinhos donos de bares são simpáticos como o que eu conhecera naquela manhã.

Revirei um monte de lixo. Quando sentia o cheiro de algo comestível, rasgava os sacos com raiva e esperança de saciar a minha fome. Não encontrava muita coisa. Comi alguns restos amassados de arroz com feijão, misturados com cinza de cigarros. Também matei a fome com alguns biscoitos úmidos. Não estava satisfeito, mas me sentia um pouco menos fraco. E continuei andando. Foi assim durante vários dias. Veio o que os humanos chamam de fim de semana, e a situação piorou. As portas ficavam fechadas, não havia mais tantas pernas nas ruas e nem sacos de lixo deixavam nas calçadas.

Assim como os humanos, os cães se acostumam rapidamente com o que é bom e com o que é ruim. Por esse motivo, após tantos dias, já não sentia saudades do sítio nem daquelas pessoas. O que me regia era apenas o instinto de sobrevivência. Comida e água eram as únicas coisas que importavam. Pode até nem ser comida. Basta matar a fome.

Eu já não esperava mais nada. Apenas andava o dia inteiro. Certo dia, porém, quando mais uma vez já havia escurecido, e eu começava a procurar um lugar seguro para dormir um pouquinho com tranquilidade, virei mais uma esquina. Foi quando avistei um homem magro sentado no chão comendo um marmitex. O cheiro era de frango. Senti de longe. Lentamente, dei alguns passos em direção a ele. Sentei e abanei o rabo bem devagar, umas três vezes. Só precisava mostrar que estava com fome. Temia a reação que ele poderia ter.

O homem me olhou e deu um sorriso. Pegou um pedaço de frango e estendeu a mão esperando que eu pegasse. Dei mais alguns passos em direção a ele e peguei com cuidado o pedaço que ele segurava. Comi. Comi com muita rapidez. Ele me deu mais. Comemos juntos o que havia dentro do pote de alumínio. Estava muito gostoso. Acabou. Deitei do lado dele, e ele passou a mão nos pelos da minha cabeça.

Eu havia feito o meu primeiro amigo.

No próximo capítulo: Amigo é coisa para se guardar

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Até a próxima segunda.

Lambidas.

 

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