Desabafo
Ontem eu fui marcada em uma foto no Facebook (ao lado) com o pedido de ajuda para um cachorro que havia sido atropelado. Como o cão se encontrava perto do antigo condomínio em que eu morava, decidi compartilhar para pedir ajuda para quem ainda mora lá. Muitos se sensibilizaram e estavam dispostos a ajudar. Em menos de cinco minutos já havíamos arrecadado uma graninha e já estávamos procurando um veterinário que topasse atendê-lo naquela hora. Comecei ler com calma todos os comentários já existentes na foto e descobri que o CCZ passou no local, resgatou o cachorro e o sacrificou. A justificativa do CCZ para tal ato é que o animal teve fratura em três lugares, hemorragia interna e estava agonizando. Por isso, o bicho foi morto.
O fato é que já faz um tempinho que escuto pessoas (ignorantes) a falarem e me questionarem. Já me perguntaram mais de uma vez o motivo de eu tentar salvar os cachorros com tanta criança passando fome e sendo negligenciadas pelos pais. Pois bem, vou usar esta ocasião para responder tal pergunta:
Criancinhas são colocadas no mundo por seres pensantes. Cachorros nascem por mera ação da natureza. Uma pessoa pode ir até um posto de saúde e pegar camisinha, pílula anticoncepcional e até mesmo a pílula do dia do seguinte. Tudo de graça. O que falta é ensinar como usar esses contraceptivos. Temos crianças nas ruas largadas por falta de escolas, por falta de responsabilidade do governo. Muitas crianças estão nas ruas por terem pais dependentes de drogas. Mas o Estado trata viciado como criminoso, quando deveria ser tratado como doente.
Enfim, mas voltando aos cachorros… Uma gestação de cachorros geralmente dá cerca de dez filhotes. Existe uma estatística que apenas três cãozinhos dessa ninhada conseguirão um lar para morar. Os outros vão para rua. Ao contrário do ser humano, que ganha o contraceptivo gratuitamente no posto, o animal precisa de um humano pensante para castrá-lo. Se o Estado não liga para as criancinhas, que dirá para os animais. Cachorros e gatos são amontoados em diversos Centros de Controle de Zoonoses. São jogados e sacrificados constantemente.
A questão aqui é o seguinte: ainda bem que existe uma ampla diversidade de pessoas que levantam diferentes bandeiras. Temos as crianças, os idosos, as mulheres que apanham, os moradores de rua, os deficientes, o meio ambiente. Imaginem o caos que se instalaria se todos olhassem sempre para o mesmo ponto? Teríamos que fazer listas de prioridades de necessitados. E quem atenderíamos primeiro em detrimento dos demais?
Fico chateada quando sou questionada por isso. Fico emputecida também. Normalmente, essas perguntas vêm de pessoas que não fazem grande coisa. Só compartilham algumas fotinhos, chocam-se com outras e acham que já fizeram o suficiente do conforto de suas cadeiras giratórias e reclináveis com seus notebooks de grife. Eu não saio pelas ruas catando cachorro abandonado. Gostaria, mas não tenho condições e nem espaço. Tenho dois adotados por quem dou a minha vida todo dia. Mas, mesmo assim, não me sinto satisfeita. Tento divulgar todos os peludos que aparecem na minha vida. Tento ajudar a todos com um pouquinho de ração, atenção e carinho.
Por isso, antes de me criticar ou me questionar, questione-se primeiro. O que você anda fazendo para ajudar o planeta? Sentar, reclamar e escrever um post no Facebook não muda o mundo. O que muda é arregaçar as mangas e fazer alguma coisa, mesmo que o mínimo.
Agradeço a todos que lutam pelos peludos comigo. Nesta minha pequena jornada, conheci pessoas que mudam o mundo e me mudaram. Obrigada cada força e palavra de estímulo. Agora, para quem critica: abre os olhos, levante a bunda e lute por algo. Sem demérito às criancinhas, aos velhinhos, ou aos dependentes químicos, acho que isso não diminui o direito dos animais terem uma vida digna.
Erika Bismarchi
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