O último dia no CCZ

26_oscarCapítulo anterior: Minha vida está prestes a mudar

Era para ser o meu derradeiro dia no Centro de Controle de Zoonoses de Guarujá. Mas acabou sendo o começo do meu pior pesadelo da minha vida até então. Sim, até então porque o maior sofrimento ainda estava por vir.

Assim que mãe e filha foram embora, os veterinários do CCZ começaram a preparar a sala de cirurgia para a minha castração. Depois de tudo pronto, me levaram para lá e me sedaram. Adormeci.

A castração é uma cirurgia simples e quase que sem riscos. É uma prática ótima, acreditem. Além de controlar o crescimento desenfreado de cachorros nas ruas, ela também evita diversas doenças, inclusive o câncer.

Há pessoas que têm dó da gente. Acham que castrar é uma violência, um roubo cruel de nossa sexualidade. Nada disso. Felizmente, não somos como os humanos, os únicos animais do planeta que carregam o pesado fardo da consciência de si mesmos. É ela que dá a vocês o ódio, a culpa, a avareza e tantos outros sentimentos nascidos do ego.

Nós não temos nada disso. Sexo para nós, bichos, é algo de que não sentimos falta quando não temos. Gostaríamos – isso, sim – de não precisar comer para não sentir fome, de não ter que beber para não passar mais sede. Assim, sofreríamos menos no mundo dos homens. Por isso, necessitamos é de menos cães no mundo para serem maltratados.

Por isso, é uma boa notícia o fato de que em menos de meia hora estava tudo terminado. Eu estava esterilizado. Não colocaria mais nas ruas filhotes sem futuro. Os veterinários aproveitaram que eu estava anestesiado e tatuaram minha orelha direita com o número 056. Era meu registro para sempre no CZZ. A ele estava associado minha passagem por aquela prisão quando saísse de lá.

Mas o CCZ tinha pressa. Nem esperaram eu voltar a mim da anestesia e me colocaram de novo na cela. Sem controle ainda de meus reflexos, enfraquecido e indefeso, tornei-me presa fácil. Fui atacado por vários cães. Arrancaram meus pontos e morderam meu focinho. Quase perdi um pedaço da orelha, dilacerada por uma mordida.

Acordei morrendo de dor. Passei horas em agonia. Só na manhã seguinte apareceu um veterinário para me ajudar. Estava bastante machucado. Já era sexta-feira e eles disseram para a mãe da menina Bel que eu não poderia ser liberado daquele jeito. Elas insistiram muito, e eu sentia a energia de amor que vinha delas. Mas eu precisava ficar em observação. Que elas voltassem na segunda-feira.

Era a primeira vez na minha vida que alguém se preocupou e ficou triste por mim. O final de semana se arrastou para mim e para aquela família. Nunca desejamos tanto que a segunda-feira chegasse.

No próximo capítulo: O fim do meu pesadelo

Para acompanhar todos os capítulos da minha história, clique aqui. A ordem cronológica é de baixo para cima.

Até a próxima segunda.

Lambidas

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